- Detalhes
-
Escrito por Anamar Moncavo Oliveira
-
-
Acessos: 1384
Do início da ética ao fim do mundo Antigo
A partir da perspectiva de Max Stirner
Da mesma forma que nós, alemães, dificilmente teríamos um Kant, sem a Idade do Iluminismo, assim também os gregos dificilmente teriam um Sócrates ou uma filosofia socrática, sem os sofistas.
Zeller
A figura de Sócrates, ou o que conhecemos dela através dos diálogos platônicos, está intimamente ligada aos sofistas. Certamente, a marginalização dos sofistas do discurso filosófico e a visão pejorativa que se tem deles são devedoras da tradição de pensamento ocidental, inauguradas pela tríade Sócrates, Platão e Aristóteles.
Em nossos dicionários, sofisma é definido como um argumento capcioso, cujo intento é enganar, iludir, ou vencer o adversário no discurso. Quando alguém está sofismando, pretende dar aparências de verdade, isto é, fazer parecer que é o que não é.
Um estudo consistente sobre os sofistas devem se afastar dessas visões, apresentando a multiplicidade e riqueza deste pensamento. Mais ainda, leva-nos a analisar Sócrates, o grande inimigo dos sofistas, com outro olhar, mostrando como ele foi o início da grande decadência do mundo antigo, segundo Max Stirner ― e adotado por Nietzsche. Para ele, o mundo antigo gerou a inversão de valores que desembocou no cristianismo. Da crença na verdade da Natureza passaram para a crença na verdade do Espírito.
Objetivo geral
A compreensão do momento sofístico e contextualização do seu momento de eclosão; traçando como contraponto o pensamento socrático e seus desdobramentos para o mundo antigo.
Tópicos
|
Problematização
|
-
Explicação dos sofistas e contextualização histórica.
-
“Virada antropológica”: do kosmós para o homem. Phýsis vs. nomos.
-
Polis e democracia grega. Ágora, assembleia e aristocracia.
-
A nova paideia grega: o ensino da areté ao cidadão.
-
Tragédia grega: afastamento do mundo dos deuses e do mundo dos homens.
-
O problema do devir e a métis.
-
Os sofistas.
-
Sophos, sophistes: sábio. Aquele que tem perícia em determinada capacidade.
-
Relação entre sofista, poeta e os que praticam a arte da mousiké. (Ode de Píndaro e palavras de Ésquilo) Herança da palavra mágico-religiosa.
-
Protágoras e seu agnosticismo: o ponto neutro de dois discursos opostos: o da crença e o da descrença. 2º momento: afirmação do homem-medida. “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são." 3º momento: elaboração de um discurso forte.
-
Górgias e o Elogio de Helena e o Tratado do Não-serou Sobre a Natureza.
-
Sofistas: natureza é a antítese da lei. Platão: a natureza, como produto de desígnio racional, é a incorporação suprema da lei e da ordem.
-
O sofista opera com uma transformação de estados, passando do “menos bom” ao “melhor” (inversão dos estados). Enquanto o médico transforma por meio de remédios, o sofista opera pelos discursos.
|
|
-
Sócrates
-
Afastamento das cosmologias e do pensamento pré-socrático.
-
Oráculo de Delfos; gnôthi seautón [conhece-te a ti mesmo].
-
Ter conhecimento da própria ignorância.
-
Ironia e maiêutica.
-
Daímon socrático.
-
Dialética socrática: técnica de perguntar, responder e refutar (em Platão, verdadeiro método para alcançar as ideias).
-
Escritos de Platão: diálogos socráticos.
-
Questionava as pessoas em praça pública e fazia com que as pessoas percebessem que não sabiam o que pensavam que sabiam.
-
As Nuvens, Aristófanes.
-
Similaridades entre Sócrates e os sofistas.
-
Virada no modo de pensamento. Antes: “O que esta coisa tem de verdadeira?”. Depois de Sócrates: “O que é a verdade?”.
-
As aporias socráticas.
-
A Apologiade Sócrates.
|
|
“Para os Antigos, o mundo era uma verdade” (Feuerbach) – contraponto com o postulado cristão da “vanidade e transitoriedade do mundo”.
-
A Antiguidade gera uma inversão de valores. Da natureza para o espírito.
-
Época clássica, século de ouro de Péricles (V-IV A.C.). ― Expansão da cultura sofista.
-
Máxima dos sofistas: “Não te deixes surpreender!” – Uso do entendimento como melhor arma para enfrentar o mundo (o engenho, o espírito).
-
Porém... Se o coração permanecer dominado pelos apetites e paixões, o entendimento estará sempre a serviço do “mau coração”.
-
Sócrates: O importante é saber a causa na qual o entendimento se empenha. Servir à “boa causa”. ― ser moral. Fundação da ética.
-
Pelo princípio da sofística – o escravo pode ser um excelente sofista, e adaptar tudo a seu favor.
-
1º período da libertação intelectual grega: a onipotência do entendimento, com os sofistas.
-
Sócrates: “Tendes a ser puros de coração”. 2º período: a educação do coração. Ex.: Cuidado-de-si [epiméleia heautoû] de Foucault.
-
Luta do coração para libertar-se do mundo. “Essa guerra é declarada por Sócrates, e a paz só se fará no dia em que morre o mundo antigo”. (STIRNER, 2009: 27).
-
Sócrates: marco da decadência da Grécia e do mundo antigo. Similaridades com Nietzsche.
-
Período de consumação: ceticismo ― o coração não se deixa afetar por mais nada.
-
Fim do mundo antigo. Início do pensamento cristão.
|
|
BIBLIOGRAFIA
CASSIN, Barbara. O efeito sofístico: sofística, filosofia, retórica, literatura. Tradução de Ana Lúcia de Oliveira, Maria Cristina Franco Ferraz e Paulo Pinheiro. São Paulo: Ed. 34, 2005.
DETIENNE, Marcel.; VERNANT, Jean-Pierre. Métis: as astúcias da inteligência. São Paulo: Odysseus, 2008.
GUTHRIE, W. K. C. Os sofistas. Tradução de João Rezende da Costa. 2. Ed. São Paulo: Paulus, 2007.
STIRNER, Max. O único e a sua propriedade. Tradução, glossário e notas de João Barrento. São Paulo: Martins Fontes, 2009. (Coleção Dialética).